terça-feira, 7 de outubro de 2008



Percursos do herói

"O herói representa o modelo do homem criativo, que tem coragem para ser fiel a si mesmo, aos seus desejos, fantasias e às suas próprias concepções de valor. Ele se atreve a viver a vida, em vez de fugir dela. Ele supera o profundo medo diante do estranho, do desconhecido e do novo. Trilha caminhos que, por um lado, tememos, mas que, por outro, percorreríamos prazerosamente em segredo: caminhos das esferas ocultas e proibidas do ser de difícil acesso; trata-se aí de países estrangeiros ou galáxias distantes, fenômenos naturais incompreensíveis ou da escuridão da nossa alma. À medida que ele não se deixa desviar do seu propósito pelas advertências de outros homens, nem pelos seus próprios medos e sentimentos de culpa, mantendo-se aberto e disposto a aprender, capaz de suportar conflitos, frustrações, solidão, rejeição, ele adquire novos conhecimentos e realiza ações que possuem força transformadora, não apenas em relação a ele, mas também à sociedade. Ele representa características fundamentais de que precisamos para o domínio da vida e o embate criativo com a nossa existência. Seu caminho é o caminho da auto-realização.” (Müller, Lutz 1987)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008



Workshop de abertura

Venha conhecer nossa proposta neste evento!

Dia 04 de outubro, das 14:30 às 18:00.

O que vamos fazer neste encontro?

- Apresentar a proposta.

- Vivência em Arte Terapia com participantes.

Investimento deste encontro: R$ 15,00

Rua José do Patrocínio, 278—Cidade Baixa—Porto Alegre

O homem, o universo e a transformação







O homem, o universo e a transformação
(PaTTi Cruz)

Embora não nos faltem indagações, embora algumas respostas apareçam, a pergunta é sempre o que nos direciona o caminho. Estamos sempre insatisfeitos, por isso estamos aqui, na busca de mais; de mais saber, de mais acreditar, de mais existir, de mais transformar e transformar-se. É esta busca, esta incessante busca, esta sensação de garganta seca, suplicando pelo conhecimento derramado que nos move. A pergunta é só o pretexto para não parar de existir.

De acordo com Fayga Ostrower[1], o homem comanda a partir das suas referências seu processo de transformação e a construção de seu caminho. Este processo ocorre ininterruptamente, durante sua trajetória de existência e as implicações de suas ações sobre o contexto em que vive e mais amplamente, sobre o universo darão o tom e ritimo a caminhada. Fayga Ostrower, nos diz que toda a atividade humana está inserida em uma realidade social, cujas carências e cujos recursos materiais e espirituais constituem o contexto de vida do indivíduo. São esses aspectos, transformados em valores culturais, que o solicitam e motivam-no a agir. Nas palavras de Fayga criar é, basicamente formar, isto é, poder dar uma forma a algo novo. Fayga traz ainda a idéia de que as formas de percepção sobre as coisas, o mundo e a construção e, a percepção sobre as relações não se estabelecem ao acaso, há sempre um nexo, um sentido. E o homem é o centro focal que estabelece as relações entre os fenômenos que acontecem a sua volta, ligando-os entre si e vinculando-os a si mesmo. É possível acreditar que estas relações são feitas a partir das sensações e sentimentos atribuídos aos fatos e acontecimentos de acordo com as expectativas, desejos, medos e, sobretudo de acordo com a maneira que ordenamos todos estes sentimentos e as atribuições de valores em relação a eles. É nesta busca de ordenar e de significar, como menciona Fayga, que está colocada a intensa motivação do homem de criar. Ordenando, configurando, relacionando e significando os fenômenos, atribuindo e valorando o sentido das ordenações e formas, o homem comunica-se com seus pares e com o meio. Nestas ações despertam-se as possibilidades, suas potencialidades, que segundo Fayga se convertem em necessidades existenciais.

A percepção de si mesmo dentro desta ação é, de acordo com Fayga, um aspecto relevante que distingue a criatividade humana, impelida por novas necessidades, numa constância de movimentos, o potencial criador do homem surge na história como fator de realização e permanente transformação.

Em um processo de gestação de nós mesmos, vamos traçando nossos caminhos no útero do universo, numa ânsia de fazer eclodir nossos sentimentos em formas e cores, em pleno contato com as sutilezas que nos habitam. A partir desta manifestação caleidoscópica podemos dar forma a uma comunicação que se estabelece com o outro, muitas vezes reflexo de nós mesmos. Assim, dando forma o homem transforma, vai se configurando, configurando sua história e deixando sua marca, ele se descobre sujeito que cria e se recria neste universo a partir de si mesmo, a partir dos vínculos com seus semelhantes, que podem ser sujeitos também de singularidades e diferenças.

Nesta diversidade de similitudes e complementaridades, convoca-se o homem a projetar seu ideal de mundo. Contudo, o homem só transforma o que está fora, ao seu redor, quando necessariamente transforma, primeiro aquilo que está dentro de si. Seu olhar e percepção não têm alcance adiante, quando antes não estiver voltado em sua própria direção, em uma busca de ajuste, de equilíbrio de si mesmo neste espaço de relação: homem-universo-homem. É quase, como se infinitamente, o homem tivesse que lapidar o equilíbrio todos os pardos ou coloridos dias na constante caminhada de seu destino à transformação.

No movimento do universo, na roda da vida que gira, dinamicamente no espaço da existência humana, na qual estamos agarrados, o que nos sustenta é esta leveza de sentir a poesia do mundo, nos seus diferentes contextos. A poesia que nos fala sobre as adversidades e bem-aventuranças, a poesia que nos canta e encanta, a poesia que nos alimenta. E embalados por esta poesia o universo dança dentro de nós. Nosso ritmo interno se projeta nas linhas da partitura da melodia do mundo e este som tem o tom que damos a ele, a partir do que pensamos, do que somos e do que desejamos, a partir do que acreditamos e sonhamos é que se nasce para tudo que existe a nossa volta. Na poética dos movimentos, das palavras, projetamos sentimentos e na regência desta orquestra de cordas que tramam a roda da vida, neste ato que não é apenas pura e simples contemplação, mas a ação equilibrada de tudo que nos compõem é que adquirimos nossa identidade de ser.

[1] Fayga Perla Ostrower (Lodz, Polônia 1920 - Rio de Janeiro RJ 2001). Gravadora, pintora, desenhista, ilustradora, ceramista, escritora, teórica da arte, professora.